É comum todos amarem a personagem corajosa e teimosa, muitas vezes descrita como sendo difícil de lidar. E é comum todos odiarem a personagem quieta e delicada, que não queria estar no meio de todo aquele tumulto mas que, por algum motivo, se viu obrigada a carregar um fardo consigo.
As meninas gentis e empáticas em livros e filmes costumam ser as mais incompreendidas. Todos as veem como sendo uma presença constante que sempre estará lá para os ajudar, mas nunca se perguntam se ela precisa de ajuda. Elas se doam por inteiro sem reclamar, porém, em vez de serem elogiadas, acabam tratadas como coadjuvantes.
Elas parecem estar sempre com um sorriso tímido no rosto, esperando o momento oportuno para dar sua opinião e de ser ouvida. Nunca admitem que são boas em algo porque, no fundo, não se consideram talentosas como as outras garotas. Para elas, ser triste nunca é uma opção.
Beth March, uma das irmãs do livro e filme Little Women, é assim. Ela é considerada ‘a melhor das irmãs’ justamente por ser tão meiga e fácil de lidar. Ainda assim, é a mais incompreendida, já que muitos reduzem sua personalidade a apenas ajudar e ser tímida.
Sua bondade é sempre necessária, mas nunca apreciada.
Garotas como Beth March, que nunca foram a primeira opção de ninguém, estão em todos os lugares. São fofas, mas não atraentes. São talentosas, mas ninguém as vê. Têm muito o que dizer, mas ninguém presta atenção. Têm sonhos, mas ninguém parece notar.
Somos descritas como pessoas que não possuem ambição. Que se contentam com tudo e, justamente por isso, não somos amadas da maneira que amamos. E, apesar de gostarmos de ficar sozinha, não somos imunes à sensação de ser deixada para trás. Como se todos estivessem seguindo em frente, conquistando seus sonhos, menos nós, as garotas que ficam. Que permanecem ajudando e sofrendo em silêncio, sem coragem para conquistar.
Gostamos do conforto de casa não achamos necessário atravessar oceanos para ser feliz: a simplicidade é o suficiente. Mas isso não significa que queremos ser sempre a opção segura, aquela que os garotos pensam 'se tudo der errado, eu sei que ela vai estar lá'. Somos melhores do que isso.
Ao contrário do que pensam, há um limite.
O que acontece quando a bondade se transforma em um fardo? Quando o sorriso se perde e o coração começa a questionar se tudo o que deram realmente foi valorizado? Nesse momento, nos rebelamos e todos começam a achar que estamos malucas. Os mais velhos reclamam que ‘ficou sem educação’, mas a verdade é que simplesmente cansamos de ser segunda opção.
Sentimos, talvez até mais intensamente, a falta de afeto genuíno, de uma palavra amiga que não seja apenas um pedido de ajuda. Temos nossas próprias dores, inseguranças e anseios, mas, por muito tempo, nos acostumamos a ser o alicerce invisível de outros, sem exigir que alguém seja o nosso alicerce.
Quando nos colocamos em primeiro lugar, o jogo muda.
Não significa deixar de ajudar e ser generosa, e sim entender seus próprios limites. Aprender a dizer ‘não’ quando necessário, aprender a sentir as dores sem fugir delas, sem medo de estar sendo indesejada.
A luz nunca esteve na afirmação de outra pessoa. Não precisamos sacrificar nossos valores e sonhos para sermos aceitas quando, na verdade, nunca nos resumimos a ‘ser a amiga rejeitada’. Mesmo quando nos sentimos sendo o ‘tapa buraco’ de alguém, a amiga que só é chamada quando precisam de conselhos, nunca fomos isso. Nos sentimos dessa forma, mas isso nunca irá nos definir.
Quando finalmente estamos bem com nossa própria existência, começamos a ser quem realmente somos. Não mudamos de personalidade, mas começamos a ocupar nosso espaço. Começamos a entender que não precisamos carregar o mundo todo em nossas costas. A tentar coisas novas só para saber o gostinho do desconhecido. Não hesitamos em reconhecer nossos talentos, porque sabemos que são tão válidos quanto os de qualquer outra pessoa.
É verdade, não precisamos atravessar oceanos para sermos felizes, mas isso não significa que não podemos sonhar grande. Sonhamos à nossa maneira, com aquilo que faz sentido para nós, sem nos moldarmos às expectativas alheias. Somos o suficiente do jeito que somos – e isso basta.
E, se alguém não consegue ver nosso valor, esse é o problema deles, não nosso. Porque agora sabemos o nosso lugar no mundo: não na segunda fileira, nem como a opção segura de alguém. É no centro.
nossa, eu amei! confesso que sempre fui uma criança e adolescente muito na minha, no meu próprio mundinho, mesmo gostando de conversar e conhecer pessoas novas. sempre fui apaixonada por romances, e esse rótulo das "que ficam" era algo que me incomodava demais, parecia que a gentileza era sinônimo de fraqueza, ingenuidade. gostei demais como você pontuou todas as conexões desse tema, ficou MUITO bom!
nossa amg, vc arrasou demais aqui!! eu real amei muito tirar um tempinho pra ler isso 💞